Cada um de nós é uma palavra do poema do universo.

A palavra Yoga, no contexto da gramática, na visão hindu, refere-se a esta subtil ligação entre a forma da palavra e o seu significado, e no yoga, na prática filosófica, encontramos esse sentido de integração entre a forma e o conteúdo. Este belo entendimento foi-me transmitido pelo meu professor Carlos Eduardo Barbosa Gonzalez. Os professores têm essa capacidade de nos dar as pedras para fazermos esse caminho de passagem do rio.
Pois o Yoga faz-se caminhando. É bom o encontro na sala de aula, a partilha, a conversa. Mas depois, cada um parte com a sua melodia interna, às vezes harmoniosa, outras aos turbilhões, e não são assim todas as composições? O caminho do Yoga é essa fabulosa capacidade de deixar fluir o nosso ser e a partir daí dar origem a este sistema natural que flui a partir de nós. No yoga este deixar fluir da nossa essência é o Dharma. Parece tão simples! Mas não é, pelo menos para a grande maioria.
Quando damos os primeiros passos do caminho tantas setas de direção surgem, tantos guias nos acompanham e podemos seguir caminhos dissonantes. Há, no contexto dos grupos em que nos vamos encaixando, esses ecos do certo e do errado, que nos vão moldando, as relações que vão provocando o nosso crescimento e podemos começar a entender que vem daí a nossa segurança emocional: as setas, os grupos, as relações. Olhamos para o caminho do outro e desfocamos do nosso e entre ruelas e grandes avenidas pode haver uma vertigem em relação ao trilho a seguir.
E é por isso que parar é bom. Observar este tremer interno e perceber que a segurança não vem de nada externo. Há um espaço interno que é acolhedor. Esse espaço só pode surgir quando nos rendemos à evidência de que nos temos a nós, com todas as imperfeições a que puxamos o lustro, e com toda esta magia de sermos essa palavra única do universo, poeira das estrelas. Olhar para o caminho do lado não faz sentido, porque cada um é esse fenómeno único, com um sistema único. E também não vale a pena agarrarmo-nos a nada, pois essa música produzida pela nossa essência logo se vai e transforma. Não está nessa música o nosso valor. Não está no dinheiro, não esta na nossa profissão, não está nos nossos amigos, não está no amor da nossa vida. Está cá dentro, neste abraço interno, que tudo inclui. Desse abraço interno todo o universo se pode estender e espalhar, para nada agarrar.