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As origens da Cultura Védica – uma polémica que já não é!

Quando há uns anos me dicidi a ter o tema das “origens do Yoga” para o meu trabalho de final do curso de formação em Hatha Yoga, não me tinha apercebido do ano difícil que teria pela frente. Quando pesquisava, via documentários, lia livros, percebia que as teorias sobre a origem desta filosofia remetiam-me sempre para falácias, ideias romantizadas e a maior parte das vezes distantes da teoria que sabia ser a mais sensata, a da origem indo-europeia. Felizmemente tinha já conhecido o Professor Carlos Eduardo Barbosa, investigador da Cultura Sânscrita, com quem tinha tido aulas sobre variados temas e com quem me propus a tirar um curso mais aprofundado sobre a História e a Literatura do Yoga no Sanskritforum.org .


Hoje deparo-me com uma tarefa bem mais facilitada. Passados mais de dois anos de ter terminado o trabalho final, a história já assumiu as teorias mais recentes sobre as origens da cultura védica e isso expressa-se bem numa pesquisa pelo motor de busca da Google. A teoria de Max Muller da Invasão Ariana já começa a perder a veemência das suas garras na atualidade do século XXI, tendo sido ultrapassada logo no início do século XX, aquando das decobertas arqueológicas de Mohenjo Dharo e de Harappa, que não revelaram vestígios de nenhuma invasão, mas sim de mudanças geológicas que terão afetado o destino de uma civilização. Sarasvati tinha secado. O rio que assistiu à criação dos hinos védicos passou de mito a realidade no século XX, graças as tecnologias de observação geológica. A história vai mudando consoante a nossa capacidade de olhá-la e Max Muller olhava para a história com o contexto da Companha das Índias do Império Britânico, para quem trabalhava.



Deusa Saraswati

No século XIX desenvolveu uma teoria histórica baseada no primeiro documento védico conhecido, o Rig Veda. A partir deste texto desenhou uma escala temporal meramente especulativa, de 200 anos em 200 anos, a partir do nascimento de Cristo, para trás. A sua interpretação do Rig Veda levou-o às conclusões de que a Índia teria sofrido invasões de guerreiros de pele clara, os arianos, e que estes teriam tomado conta do território do noroeste indiano e dominado o povo de pele escura que nele habitava, o povo do Vale do Rio Indo. Esse povo porém, tinha uma cultura forte que teria sido assimilada pelo povo invasor, e nessa herança estaria incluindo o Yoga. Esta teoria teve força até início do século XX, tendo sido a que influenciou Hitler para o desenvolvimento da sua própria visão ariana: uma raça branca superior com uma força implacável.


A teoria das migrações sucessivas começou por ser defendida pela historiadora Romila Thapar, cujo livro “A History of India: Volume 1 da Penguin” chegou a ser retirado de circulação por desafiar a visão histórica da Índia até aí defendida. O livro deixou de ser proibido mas a polémica só teve fim no ano passado com um estudo genético que confirmou as migrações dos Indo Europeus para o norte da Índia na Idade do Bronze.


Ao olharmos para a Índia do passado devemos pensar num território alargado que envolve o Afeganistão, o Paquistão e o Nepal. As montanhas do norte serviram ao longo de milénios como comunicação e passagem de diferentes povos, do lado ocidental com ligação ao Afeganistão, Paquistão e montanhas Sulayman e a nordeste com os Himalaias.


Assim aconteceu com o povo indo-europeu. Levaram a língua indo-europeia para o território indiano e terão composto os Vedas nas margens do Rio Saravasti. Tratavam-se de migrantes que ao longo de milhares de anos se foram instalando naquele território, não através de guerras e batalhas, muito pelo contrário, misturando-se com os costumes e até criando relações de simbiose e proximidade com os que já lá estavam, os harappianos, sumerianos e os nagas. Esses indo-europeus eram os portadores da língua védica, que se transformará no sânscrito.


Há cerca de 6000 anos, entre o atual Afeganistão e o Nepal, nas margens do Rio Saravasti diferentes povos coabitavam. Nas montanhas, os indo-europeus cruzaram-se com os Nagas, nas margens do Rio Sarasvati com os povos do Rio Indo. Nesse caldeirão cultural estão porventura os condimentos da civilização védica de onde irá emergir não só o Yoga, como o Hinduísmo, o Jainismo e o Budismo, mas isso ficará para um outro artigo.


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